Propriedades Físico-Químicas, Estabilidade e Reatividade: Seções 9 e 10 da FDS
As propriedades físico-químicas, bem como os aspectos relacionados à estabilidade e reatividade de substâncias e misturas químicas, são informações fundamentais para garantir a segurança no manuseio, armazenamento e transporte de produtos perigosos. Esses dados, reunidos nas seções 9 e 10 da Ficha com Dados de Segurança (FDS), tornam possível avaliar riscos e definir medidas eficazes de prevenção.
Conhecer e interpretar corretamente essas propriedades é essencial para profissionais das áreas de saúde e segurança do trabalho, meio ambiente, qualidade e assuntos regulatórios, pois essas informações impactam em toda a cadeia de produção e uso de produtos químicos.
Neste artigo, exploramos as seções 9 e 10 da FDS, com exemplos, orientações e cuidados necessários para garantir a clareza, consistência e conformidade regulatória dessas informações.
Importância do Conhecimento das Propriedades Físico-Químicas
O primeiro passo é identificar a forma do produto: se é uma substância pura, uma mistura ou uma combinação de ingredientes com composição variável. Sem essa definição, torna-se difícil analisar corretamente as propriedades físico-químicas.
As propriedades físico-químicas são essenciais para:
- Classificação de perigos físicos: Determinar riscos como inflamabilidade, explosão e reatividade;
- Definição de medidas de precaução: Orientar o manuseio, armazenamento e respostas a emergências;
- Avaliação do comportamento: volatilidade, densidade relativa do vapor, solubilidade e possíveis vias de exposição;
- Previsão do comportamento no ambiente: Saber se vapores tendem a se acumular em áreas baixas ou altas, por exemplo.
A norma ABNT NBR 14725, alinhada ao GHS (Sistema Globalmente Harmonizado), especifica um conjunto de propriedades que devem ser descritas na seção 9 da FDS:
- Estado físico, cor e odor: Informações gerais para identificação;
- Ponto de fusão/congelamento e ponto de ebulição: Permitem inferir o estado físico em condições ambientais;
- Inflamabilidade e ponto de fulgor: Essenciais para líquidos e gases inflamáveis;
- Limites superior e inferior de inflamabilidade/explosividade: Indicam faixas de concentração no ar para combustão;
- Temperatura de autoignição: Temperatura em que a substância inicia combustão sem fonte externa;
- Temperatura de decomposição: Temperatura em que a substância se decompõe quimicamente;
- pH: Relevante para substâncias solúveis em água, indicando acidez ou alcalinidade;
- Viscosidade cinemática: Aplicável somente aos líquidos, especialmente solventes orgânicos, para avaliar riscos de aspiração;
- Solubilidade: Geralmente em água, determina o comportamento e as medidas de combate a incêndio;
- Coeficiente de partição octanol/água: Indica a lipossolubilidade, relevante para avaliação de exposição e toxicidade;
- Pressão de vapor: Avalia a volatilidade da substância, importante para estimativas de exposição;
- Densidade e densidade relativa do vapor: Auxiliam no entendimento do comportamento do vapor em relação ao ar;
- Características de partículas: Para sólidos, especialmente quando finamente divididos ou nanopartículas.
É importante destacar que algumas propriedades podem ser não aplicáveis dependendo da natureza do produto. Por exemplo, o pH não se aplica a solventes orgânicos insolúveis em água, e o ponto de fulgor não é relevante para substâncias não inflamáveis. Mesmo assim, essas propriedades devem ser mencionadas na seção 9 da FDS, com notas de ‘não aplicável’ ou ‘não disponível’
Estabilidade e Reatividade na Seção 10 da FDS
A seção 10 da FDS é dedicada a descrever a estabilidade química do produto e sua reatividade, conteúdo indispensável para garantir a segurança, o armazenamento adequado e o controle eficiente das reações. Esta seção deve conter:
- Estabilidade química: Refere-se à estabilidade nas condições normais de temperatura e pressão, ou conforme previsto para uso;
- Possibilidade de reações perigosas: Identificação de possíveis reações perigosas, como decomposição, polimerização ou reações violentas;
- Condições a serem evitadas: Temperaturas, pressões, ou outras condições que possam desencadear reações perigosas;
- Materiais incompatíveis: Substâncias que podem reagir perigosamente com o produto, como oxidantes fortes, ácidos ou bases;
- Produtos perigosos da decomposição: Substâncias tóxicas ou perigosas liberadas em caso de decomposição ou incêndio.
Um exemplo clássico é a espuma de poliuretano, que ao queimar pode liberar gases tóxicos como HCN e monóxido de carbono.
Sulfato de Níquel Hexahidratado
Como exemplo de substância sólida cristalina, o sulfato de níquel hexahidratado apresenta as seguintes características:
- Estado físico: Sólido cristalino, semelhante a grânulos;
- Cor: Verde;
- Ponto de fusão: Não aplicável, pois se decompõe a 840°C;
- Inflamabilidade: Não combustível, portanto propriedades relacionadas a inflamabilidade são não aplicáveis;
- Solubilidade: Alta em água, com pH ligeiramente ácido;
- Pressão de vapor e densidade relativa do vapor: Não aplicáveis, pois não volatiliza;
- Reatividade: Estável em condições normais, mas incompatível com oxidantes fortes.
Esse exemplo ilustra a importância de classificar corretamente as propriedades para evitar informações incorretas ou confusas nas FDS.
Diluente Aguarrás (Solvente Derivado de Petróleo)
Exemplo típico de mistura líquida inflamável, a diluente aguarrás apresenta:
- Estado físico: Líquido amarelo pálido;
- Ponto de fusão: -43°C;
- Faixa de ebulição: 175°C a 325°C;
- Ponto de fulgor: Aproximadamente 60°C, classificando-o como líquido combustível ou inflamável;
- Limites de inflamabilidade: 0,7 a 5% em volume;
- Temperatura de autoignição: 245°C;
- pH: Não aplicável, pois não é solúvel em água;
- Pressão de vapor: Baixa, indicando baixa volatilidade em temperatura ambiente;
- Reatividade: Estável, porém incompatível com oxidantes fortes.
Tinta à Base de Solventes
Para misturas complexas como tintas, a determinação das propriedades físico-químicas requer cuidados especiais:
- A tinta é um líquido viscoso cuja cor depende dos pigmentos utilizados;
- O odor é geralmente aromático, proveniente dos solventes;
- Ponto de fulgor e inflamabilidade devem ser determinados experimentalmente, pois dependem da concentração e volatilidade dos solventes presentes;
- pH não aplicável para tintas à base de solventes;
- Viscosidade é uma característica importante, embora nem sempre disponível;
- Pressão de vapor e taxa de evaporação podem ser informadas com base no componente mais volátil;
- Densidade pode ser determinada por ensaio;
- Devido à complexidade, informações de propriedades devem ser obtidas preferencialmente por ensaios laboratoriais ou por inferência dos componentes principais.
Orientações para Interpretação e Consistência das Informações na FDS
Uma das dificuldades recorrentes na elaboração de FDS é a inconsistência entre as propriedades físico-químicas e as medidas recomendadas, especialmente no que se refere a riscos de inflamabilidade e medidas de prevenção. Por exemplo, não faz sentido recomendar afastamento de faíscas para substâncias que não são inflamáveis.
Portanto, é essencial que o profissional conheça o significado e a aplicabilidade das propriedades, verificando a coerência entre as seções da FDS e evitando informações confusas ou incorretas.
Para misturas que contenham matérias-primas inflamáveis, a obrigatoriedade da realização do ensaio de ponto de fulgor depende da concentração do componente inflamável. Em geral:
- Se o componente inflamável está em baixa concentração (por exemplo, abaixo de 10%), dificilmente a mistura será considerada inflamável;
- Para concentrações significativas, é recomendada a realização do ensaio para definir corretamente o ponto de fulgor e a inflamabilidade;
- Além do ponto de fulgor, para substâncias inflamáveis, é importante determinar o ponto de ebulição e, se possível, a pressão de vapor.
Uso de Nanomateriais e Características de Partículas
Quando o produto contiver nanomateriais, é obrigatório informar as características das partículas na seção 9 da FDS. Isso inclui granulometria, forma e outras propriedades relevantes, pois nanopartículas podem apresentar riscos diferenciados em relação à toxicidade e exposição.
O produto comercializado deve ser classificado e descrito na FDS conforme sua forma real, ou seja, na concentração em que é fornecido. Caso o uso previsto envolva diluições internas, recomenda-se:
- Elaboração de duas FDS: uma para o produto concentrado e outra para a solução diluída, refletindo suas propriedades e riscos;
- Garantir que os trabalhadores tenham acesso às informações adequadas para cada forma do produto;
- Realizar a classificação e avaliação dos intermediários e preparações utilizadas nos processos internos, para controle de riscos e conformidade interna.
Conclusão
A correta descrição das propriedades físico-químicas, estabilidade e reatividade nas seções 9 e 10 da Ficha com Dados de Segurança é essencial para garantir a proteção dos trabalhadores, do meio ambiente e das instalações industriais.
Essas informações não devem ser tratadas como meras formalidades, mas sim como ferramentas estratégicas para a gestão de riscos químicos, definição de medidas de segurança e apoio a decisões técnicas em processos produtivos, armazenamento e transporte.
Profissionais responsáveis pela elaboração e revisão de FDSs devem estar atentos à coerência entre as propriedades descritas e as demais seções do documento, evitando contradições que comprometam a eficácia das ações de prevenção e resposta a emergências.
Contar com suporte técnico qualificado e com soluções especializadas em gestão da segurança química é um diferencial importante para assegurar a qualidade das informações e a conformidade documental.
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